2010/02/02

26 - Carros - NÃO

 
Uaaaaa! Tô chutando o pau da barraca de novo! Abaixo o carro!!!

Explico: não é que eu não queira que haja carros daqui a cem anos, o que eu não quero é que nosso transporte diário seja baseado num veiculo como o carro: individualista, excludente e poluente.

O carro é muito mais do que um meio de transporte, ele é um símbolo dessa era que está com prazo de validade vencido. Não é a toa que um dos principais modelos de produção em massa foi idealizado por Henry Ford, fundador da Ford Motors. O carro é o sonho de consumo de 9 entre 10 homens que completam a maioridade (inventei esse dado, mas achei essa enquete nada científica que comprova a tese). O carro anda no asfalto, por isso a base de nosso transporte terrestre, inclusive de carga, é rodoviário e grande parte das ruas de nossa cidade são asfaltadas. O carro é movido a gasolina (no Brasil somos flex!!!), mas o resto do mundo depende do petróleo pra botar esses bichinhos pra funcionar e levar os filhos na escola, ir trabalhar ou ir pra praia.

Quantas crises do petróleo, quantas guerras nos países do oriente médio a gente não viu nesse último século? E essas chuvas doidas e alagamentos dos últimos anos? Dizem que essa mudança climática é culpa da emissão de CO2. Quem emite CO2? Quem? Quem? Os carros! (Nós também, mas o estrago da queima de combustíveis fósseis é maior...). E esse asfalto, então? O povo reclama da chuva e das enchentes. Canaliza o rio, asfalta o chão e quer que a água escoe por onde? Socorro.

Quer mais um motivo pra acreditar que o carro é um bom símbolopara nossa época? Olha só o ranking das maiores frotas de carro que eu achei aí na net: "foi publicada a lista das maiores frotas mundiais de automóveis. O ranking é liderado pelos EUA, com 244,4 milhões de carros, uma média de 1,2 unidade por habitante, seguido por Japão (75,8 mi), Alemanha (49,7 mi), Itália (39,8 mi), França (36,6 mi), Reino Unido (35,1 mi), China (31,5 mi), Rússia (31,2 mi) e Espanha (26 mi). O Brasil ocupa a décima colocação, com 25,5 milhões de veículos".

Alguma surpresa? Vai dizer aí que carro não é sinônimo de acumulação de capital?

E aqui no Brasil, para provar que estamos ficando ricos (ou pelo menos alguns de nós estão), as vendas de carro sobem sem parar. E para que as montadoras não sofram com a crise o nosso querido presidente ex-operário ainda abaixa o imposto sobre os carros novos para que as pessoas comprem e comprem! Só faltou mandar construir mais ruas pra caber tanto carro. Chama o Maluf pra construir mais uns 50 minhocões na cidade pra ver se o trânsito de São Paulo anda. Tá todo mundo doido. E há muito tempo!


Os dados da última pesquisa Origem/Destino, realizada pelo metrô de São Paulo, mostram que essa valorização do carro vai contra os hábitos atuais da maioria da população. Em 2007, um terço dos deslocamentos em São Paulo era feito a pé. E dos deslocamentos motorizados, 55% eram feitos em transporte coletivo. O carro é opção da menor parcela da população. Então porque ele é que é o foco principal de qualquer planejamento urbano? Será que é porque os políticos e arquitetos só andam de carro ou será que é porque eles só pensam em quem tem dinheiro (e hábitos pouco solidários).


Eu mesma evito andar até de ônibus na cidade de São Paulo. Ando em transportes que utilizam trilhos ou a pé mesmo. O trânsito, ou melhor, a falta de trânsito está insuportável. Esse privilégio de alguns, andar de carro, está tornando o deslocamento de todos impraticável. Não podemos deixar uma questão dessa, que envolve o direito público de ir e vir, nas mãos de pessoas que só pensam em si.

E qual a solução? Em meus desvarios, sonho com um meio de transporte individual mas de controle coletivo. Algo como cabines individuais com caminhos programados sobre trilhos. Dava até pra criar um post Julio Verne pra isso, se não fosse minha grata surpresa ao ver que cientistas (aqui no Brasil!!!) já estão estudando o Transporte Público Individualizado.

Enquanto isso não vira realidade, andemos a pé, de trem, de metrô ou de bike. Se você tem carro, deixe-o na garagem. Depois venda-o. Livre-se dele. Se eu que sou uma mocinha pobre e indefesa posso, você também pode.

Daqui a cem anos, quero acordar, abrir os olhos e ver que o chão não está coberto por asfalto, mas sim por mato. Não quero ouvir buzinas e roncos de motores, quero ouvir os passaros, ou o rio que passa ali do lado e que não foi canalizado para a construção de uma grande avenida. Quero ir e vir sem preocupação, sem depender da inteligência ou da boa vontade dos indivíduos que me cercam, sem ser individualista e sem ter que enfrentar o individualismo de cada um. Podem até existir alguns carros, para emergências e coisas do tipo. Mas quero, que daqui a cem anos, nosso meio de transporte - para distâncias maiores do que as pernas alcançam andando ou de bicicleta - seja coletivamente organizado, mesmo que individualmente utilizado.