2009/09/24

11 - Pesca com bomba - NÃO



Minha vontade hoje era falar de guerra. De como o ser humano pode ser estúpido e cometer atos de violência contra outros seres humanos por motivos que não dizem respeito nem a quem joga a bomba e nem a quem explode com ela.

Por volta das 12h40, estava em casa com meu pai e minha mãe. Estávamos conversando, em nossa rotina normal, quando de repente a janela começou a tremer. Fazia um barulho semelhante a um enorme trovão se aproximando. Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr. Ficamos estáticos. Os segundos foram eternos. Até que ele chegou. Um estrondo enorme. Um trovão rouco e poderoso. Uma explosão.

Naquele momento, o que me veio à cabeça foi: bomba atômica. Como não havia mais barulho de explosão, abrimos a janela e vimos uma enorme coluna de fumaça branca mais alta que um prédio de vinte andares. Não sei precisar a altura, porque quando vi achei que a explosão tinha sido a três quarteiros de casa. Me enganei, foi a mais de 15 quarteirões.

Foi a explosão mais forte que já senti e a cena de guerra mais impressionate que já vi.

Já estive em zonas de guerra, mas as cenas de guerra que mais me chocaram vi mesmo em São Paulo. A primeira foi decorrência dos ataques do PPC em 2006. No dia seguinte aos primeiros ataques, vi uma agência bancária destruída e queimada como se tivesse explodido, com um carro dentro. (Parecido com a imagem aí do lado).

A segunda cena de guerra vi há menos de um mês. Policiais com arma em punho, um dando cobertura para o outro, avançando em direção à favela de Heliópolis. Ao fundo, um ônibus atravessado na rua e muita fumaça. Rolou um medo de levar uma bala perdida. Aliás, o motivo do conflito entre moradores e policiais foi a morte de uma adolescente vítima de bala perdida (ou achada, como dizem).

E hoje, a mais assustadora de todas. O ar vibrando e o grande estrondo. Saí as ruas para ver se descobria o que tinha acontecido e vi os helicópteros da polícia e da TV chegando. A informação veio por eles: uma loja de fogos havia explodido. Até o momento, duas pessoas morreram.



Foto feita por Elenice Santim, vizinha do local, publicada no G1

A imprensa seguiu cobrindo o assunto dando o seu show de costume. Engraçado que eles têm tanta tecnologia a seu favor, mas ainda não aprenderam a ouvir. Em uma das coberturas especiais, aquelas que duram horas ao vivo, a apresentadora estava falando com espectadores que ligavam para dar o seu relato. Até então, eles estavam dizendo que o local além de loja de fogos seria também uma fábrica de fogos. Foi quando ligou um ex-morador do local e cliente da loja. Ele contou algo que me deixou boba. Ele disse que comprava lá bombas para pesca. BOMBAS PARA PESCA. E eu que nem sabia que se pescava com bombas... Ele disse que as bombas são poderosíssimas, que explodem quando estão submersas e levantam uma coluna de água de 20 metros. VINTE METROS.

Não levei muita fé. Até que achei esse vídeo e seus amiguinhos no youtube:


Amigo, são 12 quilos de dinamite pra fazer esse geiser jorrar. Não entendo nada de explosivos, mas se uma bomba para pesca pode fazer 20 metros de água subirem, várias delas juntas podem fazer casas, móveis, asfalto, terra e pessoas voarem pelos ares.

Bom, a imprensa não tocou no assunto das bombas de pesca. Seguem com a informação de que a loja teria um grande depósito de fogos de artifício ou seria uma fábrica de fogos.

De qualquer maneira, a informação da pesca com bomba me impressionou. Conheci a técnica hoje e já quero que ela não exista mais daqui a cem anos.

O governo brasileiro não quer que ela exista agora. A pesca com bomba é proíbida no Brasil. Conforme escreveram Mariana Ramos Conceição e Mônica Celestino, no livro-reportagem "Agressão Além-mar. Pesca com bomba: um crime social, cultural e ambiental":
A pesca com bombas é considerada um ato ilícito por afetar não só a cadeia alimentar, por destruir grandes cardumes e animais ainda em processo de maturação ou em fase de reprodução, como também por afetar a biota aquática, destruindo corais, eliminando algas (alimento de várias espécies), etc. Essa ação degradante teve sua proibição decretada em 1967, através da Lei n° 221, de 28 de fevereiro, tendo o criminoso como penalidade uma multa de até dois salários mínimos. Já perante os artigos 34 e 35 da Lei Federal 9.605, a chamada Lei dos Crimes Ambientais, praticar pesca com bombas e/ou usufruir do pescado adquirido dessa forma são crimes com pena prevista de um a cinco anos de reclusão.

Parece que a situação é pior no litoral da Bahia, destaco os alertas de Ivana Gil Silva, Léia Figueiredo e Diego. É isso aí, todos contra a pesca com bomba! As bombas explodem embaixo d'água e matam filhotes de peixes e crustáceos, danificam a flora e os corais, comprometendo todo o ecosistema aquático. E quando as bombas explodem fora d'água... Nos solidarizamos com as famílias das vítimas da explosão. E vamos repensar nossa relação com o mundo, que tal?

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