2009/09/14

5 - Hospital - NÃO



Definitivamente, não quero que existam hospitais daqui a cem anos.

Ninguém merece ter que enfrentar uma jornada em um hospital, muito menos quem está doente. A pessoa já está debilitada e ainda tem que enfrentar uma série de procedimentos burros e prejudiciais à saúde.

Que sentido faz reunir um monte de gente doente no mesmo lugar? Dá mais conforto pro médico que não tem que se deslocar de um lugar ao outro para atender vários pacientes? Sorry, mas quem tem que ter conforto é o DOENTE. No hospital, doente tem é estresse. Uma burocracia imensa, médicos que sequer olham para o paciente, exames avançadíssimos, mas nem sempre confiáveis, pouquíssima informação sobre sua própria saúde... Se você precisar de um hospital, vai ter que ter muita fé.

Há muitas etapas nos procedimentos e muita gente envolvida. Médicos, enfermeiros, auxiliares são pessoas e não máquinas. É como um telefone sem fio, quanto mais gente na brincadeira, mais ininteligível é a mensagem que chega no final. É batata, na maioria dos procedimentos, há ruído. E ruído nessa comunicação pode representar uma dose de remédio errada, uma infecção hospitalar, um exame mal analisado ou até mesmo a amputação da perna esquera quando o problema é na direita. Socorro!

Uma vez vi em um filme americano uma cena em que a personagem estava passando mal em sua casinha numa cidade do interior. O médico da cidade foi até lá e todos disseram: "vamos levá-la ao hospital". E o médico disse: "Não, no hospital eles não vão fazer nada que nós não podemos fazer aqui". E a moça ficou em casa. Não me lembro se ela morreu ou não, mas achei a atitude do médico corretíssima. Conforto, aconchego, carinho, atenção tem tudo a ver com cura. Essas coisas passam longe de um hospital.

Se o caso é para cirurgia ou qualquer coisa do gênero, hospital nela! Mas não há cabimento uma pessoa ficar 15 dias internada tomando comprimidos que poderia tomar em casa só para que o médico passe lá uma vez por dia (quando isso), para olhar exames. Ele não pode fazer isso por Internet, não? Ou se o médico é dos bons, daquele que olha o paciente, toca, conversa com ele, ele poderia ir até o paciente. Que tal? Médicos, pensem nisso. Antigamente isso não era tão raro. Agora, há governos implantando programas tipo "médico da família". Não sei como funcionam, mas teoricamente a iniciativa é louvável.

O fim dos hospitais exige um bom planejamento, pois os hospitais são mais uma instituição que se formou guiada por valores que estão na base de nossa organização social como centralização, supremacia da ciência e minimização dos custos financeiros (em contas que consideram somente a operação do próprio hospital e não a saúde pública em geral).

Os profissionais de saúde já perceberam que esse lance de hospital é muito complicado para tratar de gente e começamos a ouvir falar em humanização. Isso é legal, ameniza o sofrimento de quem está internado, mas não vai resolver o problema.

 

Quero mesmo que daqui a cem anos não existam hospitais como existem hoje. Vejo a necesidade de centros de excelência para casos como cirurgias, que necessitam de salas esterilizadas, grandes equipes em um mesmo procedimento, etc, etc, etc. Mas para os casos mais rotineiros, vamos respeitar as pessoas e levar os profissionais de saúde até elas.

Escreveria cinquenta mil palavras ainda sobre o assunto, falando da desvinculação irreal e improdutiva entre medicina e fé, sobre a segmentação da medicina, sobre o monopólio do saber... Mas por enquanto, basta. Chega de hospitais.

*A foto acima é do Hospital Miguel Couto, no Rio de Janeiro, Jornal O Globo

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