2009/09/20

8 - GeoCities - SIM




Este post é uma ilusão. Ou melhor, o registro de algo que para mim é um sinal preocupante. Gostaria que o GeoCities existisse daqui a cem anos.

Perceberam que eu usei o futuro do pretérito na frase anterior? Pois é... O GeoCities está se tornando coisa do passado. Hoje, me deparei com essa mensagem no site deles:

GeoCities is closing on October 26, 2009.

On October 26, 2009, your GeoCities site will no longer appear on the Web, and you will no longer be able to access your GeoCities account and files.
If you'd like to move your web site, or save the images and other files you've posted online, please act now by downloading your files or upgrading to Yahoo! Web Hosting. See details in the help center or upgrade to Web Hosting now for only $4.99 a month.
Os motivos são econômicos: "Decidimos descontinuar a assinatura de novos usuários para o GeoCities, porque nosso foco será ajudar nossos clientes a explorar e construir novos relacionamentos online de outras maneiras", informou o Yahoo em comunicado. "Como parte dos atuais esforços do Yahoo para construir produtos e serviços que propiciem a melhor experiência possível aos consumidores e os melhores resultados para os anunciantes, estamos ampliando os investimentos em algumas áreas e cortando em outras", afirmava o comunicado.

Li uma análise que considerou a medida um tiro no pé. Como se a Yahoo, que também demitiu 700 funcionários esse ano, quisesse "emagrecer" e, no lugar de fazer uma dieta e exercícios, mutilasse partes do corpo para perder peso. O fato é que a Yahoo comprou o GeoCities há uns dez anos por um preço altíssimo (vi números que variam de 2,8 bilhões de dólares a mais de 4 bi), era o auge das empresas .com. Isso passou, o Google cresceu e o Yahoo vem fazendo o que pode. E poderia ao menos ter vendido o Geocities no lugar de simplesmente acabar com ele... Mas quem sou eu pra dar palpite nessas coisas de mercado?

O que me preocupa é o significado desse fim. O Geocities é um dos serviços pioneiros de hospedagem de sites. Lá pelos idos de 1995 (você nem sabia o que era Internet nessa época, não é?), quem quisesse poderia construir uma página e publicá-la na word wide web utilizando a hospedagem e domínio. Era só escolher uma cidade e hospedar seu site lá. Por exemplo, se você tivesse um site sobre cinema o hospedaria em Hollywood (com um domínio super complicado). Mais tarde, os domínios se tornaram mais amigáveis. Mas esse começo com as cidades é memorável. No final dos anos 90, de acordo com O Globo em artigo já linkado acima, o serviço hospedava mais de 3,5 milhões de sites. A Yahoo colocou anúncios no site e uma marca d'água muito chata. Quem quisesse se livrar disso, tinha que virar usuário premiu, isto é, pagar. Foi o suficiente pra espantar a galera.

Eu mesma quase não lembrava do site. Mas hoje lembrei. Eu precisava colocar na rede uma animação (um gif animado) com uma música junto. Pensei em várias soluções e tentei algumas sem sucesso (transformar em vídeo - faltava o looping; fazer um show de slides - o looping ficou ruim; usar um blog - não dá para por música). E tive a brilhante idéia: fazer um html. Abri meu bloco de notas e fui lá, puxando do fundo da memória todos os códigos etc, etc, etc. Recorri à dicas na rede para colocar a música na página. E deu certo. Montei uma página lindinha com cara de página do fim dos anos 90.

Página montada e agora? Como eu poderia colocar o site na rede. Google: "hospedagem site grátis". O primeiro link, anúncio pega trouxa. O segundo, um cadastro enorme, para em seguida descobrir que era outro anúncio pega trouxa (não preenchi o cadastro, mas suponho que era pega trouxa...). E, finalmente, lembrei do velho e bom GeoCities!

E qual não foi minha surpresa ao entrar na página e ler o anúncio de fechamento. Surpreendente, chocante e triste. Sou do tempo em que a palavra livre ou free na língua internética era muito mais do que grátis. No GeoCities éramos livres. Livres para programar nossa página como bem entendêssemos. Não havia modelos pré-formatados, espaços para títulos, datas, nome de quem postou, perfil, minhas fotos, seção de arquivos e muito menos limites de caracteres para postagem. O GeoCities, apesar dos domínios horrorosos, era a própria liberdade e não essa liberdade formatada pelos serviços de blog, rede sociais e essa coisa estranha chamada twitter.

Por essas e por outras quero que daqui a cem anos já tenhamos superado essa fase de liberdade formatada e que as pessoas vivam de fato a liberdade. Uma liberdade que tem custos altos, como munir as pessoas do conhecimento necessário para manejar as ferramentas e fazer suas próprias escolhas, e que precisa ser planejada a longo prazo. Cem anos tá de bom tamanho.

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