2009/09/20

9 - Religiões - SIM




Aproveito Rosh Hashana e o fim do Ramadan pra dizer que quero que existam religiões, no plural, daqui a cem anos.

Se algum intelectual afirmasse isso há mais ou menos cem anos, não seria bem visto. Digo "intelectual" no sentido Europeu: homem branco culto que vivesse na França, Inglaterra, Alemanha ou arredores. Ali, onde surgiram as bases da civilização que eles mesmos denominaram Ocidental, a religião tornou-se coisa menor, foi destronada pela razão - objetiva, universal, absoluta. Dá até para entender porque tanta ojeriza em relação à religião. Foram séculos de dominação por uma Igreja Católica duríssima e violentas guerras religiosas entre os séculos XVI e XVII. Ok, entendi.

Mas o sentido que isso tinha há cem anos, já se perdeu. E há muitos cuidados a serem tomados para que não vivamos nos próximos cem anos uma ojeriza à ciência (confesso que eu mesma já sofro disso) e nem a super-valorização de uma religião voltada somente para o mundo material (que contrassenso...).

O padre João Batista Libânio analisa esse destronamento da religião no livro "A Religião no início do Milênio" (esse nosso agora 2 mil e tanto...). Entre tantas outras coisas ele escreveu: "A religião era a força integradora das sociedades humanas. O homem, como ser simbólico, tem necessidade de dar um sentido à vida em todas as dimensões. Constrói sistemas simbólicos religiosos como marco último e integrador das sociedades em que vive."

A razão, travestida de ciência, economia, trabalho, tomou esse lugar e tentou dar sentido a nossas vidas. Falhou. Vivemos perdidos, estressados, sem sentido, com a sensação de que algo está errado, algo não cola. e não cola mesmo. Pergunte por aí o que é felicidade para as pessoas. Eu já fiz isso e o que mais ouvi foi: família. A felicidade é a família e a pessoa fica mais de 12 horas por dia fora de casa em virtude do trabalho... Que sentido tem isso?

A religião não resolve essa questão, mas pelo menos permite que pensemos de forma mais ampla e, quem sabe, num futuro, que possamos agir de forma menos "racional" e mais sensata.

 

Cometi um erro, escrevi a religião e este post fala de religiões, no plural. Para que a religião construa sistemas simbólicos que nos unam (usando as palavras do padre Libânio) e que não se tornem uma camisa de força apertada como a mentaidade economicista tem se tornado, é preciso que existam religiões no plural. Somos diferentes, então é natural que tenhamos religiões diferentes. Vive la difference!

E numa feliz coincidência, exatamente hoje quando resolvi publicar este post, católicos, evangélicos, muçulmanos, judeus e, principalmente, seguidores de religiões de origem afro se reuniram na Praia de Copacabana na II Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Cerca de 80 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, tomaram quase 1 km da orla. De acordo com a imprensa, tinha até ateu na caminhada. É isso aí, liberdade de ter fé em tudo ou em nada.

É bom saber que não se está sozinho no mundo. Como diria a socialite Milu, da novela Cobras e Lagartos: "A religião voltou à moda, assim como o tafetá!".

Figura: A regra de ouro de Norman Rockwell

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